A bancada evangélica no Congresso fechou um acordo para escolher o seu líder. Os deputados Eli Borges e Silas Câmara farão um revezamento semestral ao longo dos próximos dois anos. O pastor Silas leva para o comando do bloco da Bíblia uma peculiaridade. Ou um peculato. Ele carrega no prontuário a mácula de criminoso confesso. Encrencado num caso de rachadinha, admitiu que mordeu parte dos salários de assessores. Livrou-se da cadeia em dezembro passado. Comprometeu-se a pagar multa de R$ 242 mil.
Há na bancada evangélica mais de uma centena de deputados federais e mais de uma dezena de senadores. Em meio a tantas opções, os irmãos optaram por ser comandados por um "rachador". Silas Câmara demorou a confessar o crime. Só deu o braço a torcer quando estava na bica de ser condenado no Supremo Tribunal Federal a cinco anos e três meses de cadeia, em regime semiaberto. Daria expediente no Congresso durante no dia e dormiria na prisão.
Quando o plenário do Supremo se encaminhava para formar uma maioria a favor da tranca, o ministro terrivelmente evangélico André Mendonça pediu vista do processo. Defendeu em seu voto que fosse oferecida ao deputado a oportunidade de firmar com a Procuradoria um acordo de não persecução penal. Mendonça não poderia ter participado do julgamento, pois é amigo declarado de Silas.
Pela lei, a porta do acordo estava fechada desde a formalização da ação penal. Mas o Supremo digeriu uma exceção. A alternativa seria a prescrição do crime. A confissão de Silas Câmara foi eloquente: "Admito [...] que há mais de duas décadas [...] recebi transferências e depósitos feitos por assessores parlamentares nomeados para o gabinete, após receberem seus respectivos vencimentos, fato do qual me arrependo..." A conversão do deputado em comandante da bancada evangélica expõe duas evidências:
1) O catálogo dos pecados capitais precisa incluir o mais relevante: o capital propriamente dito.
2) Deus está em toda parte, mas já não consegue dar expediente full time.
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