quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Jair Bolsonaro volta infectado por vírus da ilusão



Num instante em que Bolsonaro informa ao Wall Street Journal que retornará ao Brasil em março, o primogênito Flávio insinua nos bastidores a pretensão de disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro. Um dos planos expostos por Bolsonaro é o de influir nas eleições municipais de 2024, elegendo prefeitos conservadores ao redor do país. Nesse contexto, a candidatura do filho no Rio funcionaria como um teste de sobrevivência do bolsonarismo no coração do movimento.

Na entrevista, Bolsonaro expôs sem querer o paradoxo que o cerca. Associou sua volta ao desejo de liderar a oposição de direita. Ao mesmo tempo, admitiu que corre o risco de ser preso. É nítido o esforço para construir antecipadamente o figurino de mito injustiçado. Mas Bolsonaro não se deu conta de que pode ter sido infectado pelo vírus político da ilusão. O capitão sofre o pior tipo de ilusão que pode acometer um líder político. A ilusão de que ainda lidera.

Bolsonaro acha que é uma coisa. Mas sua reputação revela que ele já se tornou outra coisa bem diferente. Sustenta que não há ninguém mais apto do que ele a liderar a direita no Brasil. Apresenta-se como organizador desse nicho ideológico. Será? Prevalecendo os fatos e a lógica, Bolsonaro terá os direitos políticos cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Passará a roçar as grades da cadeia na condição de político tóxico e inelegível.

A ruína de Bolsonaro não elimina o bolsonarismo. Mas será necessário aferir o tamanho do rebanho de devotos. Um pedaço do conservadorismo que enxergava em Bolsonaro a alternativa ao antipetismo já navega em outras águas.

Governadores que Bolsonaro considera submetidos à sua hipotética liderança —Tarcísio de Freitas, em São Paulo, e Romeu Zema, em Minas Gerais— percorrem a conjuntura nacional caminhando com as próprias pernas. Se tiverem juízo e desempenho, chegarão a 2026 de costas para Bolsonaro.

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