quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Volume de denúncias da PGR inspira desconfiança



Saiu mais uma fornada de denúncias da Procuradoria-Geral da República contra encrencados no 8 de janeiro. Dessa vez, sugere-se ao Supremo Tribunal Federal a abertura de ações penais contra 139 pessoas. Quem observa o volume de denunciados até aqui —835 pessoas— fica com a sensação de que a repartição comandada por Augusto Aras parou de correr dos fatos para começar, finalmente, a ocorrer.

O grande receio é o de que, depois de tanto não fazer nada, a PGR de Aras tenha decidido fazer qualquer coisa. Dias atrás, notícia da Folha revelara que até a Polícia Federal estranha a repentina volúpia denunciatória da equipe batizada de Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos. Os investigadores atribuem a pressa a uma tentativa de Aras de melhorar -ou despiorar— a própria imagem.

Nessa versão, Aras busca reconciliar-se com o espelho depois de ignorar nos últimos anos todos os surtos antidemocráticos e os rompantes autoritários de Bolsonaro. O diabo é que a vontade de Aras de falsear a realidade não faz com que a realidade desapareça. E ainda pode prejudicar a investigação.

Em processos judiciais intrincados, quando alguém dá grandes passos corre o risco de deixar para trás enormes lacunas. Que serão expostas na hora do julgamento. É preciso que as culpas sejam claramente individualizadas, para que eventuais penas possam ser fixadas. Numa megainvestigação como a do quebra-quebra nos Três Poderes, a falha pode ser um outro nome para impunidade. Ou decepção.

Há, de resto, preocupação com o volume de trabalho concentrado nas mãos do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O magistrado logo perceberá que a melhor hora para estruturar uma força-tarefa capaz de dar vazão ao tsunami criminal do Capitólio brasiliense é 38 dias atrás, em 8 de janeiro. A segunda melhor hora é agora.

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