sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Há vergonha e redenção no caso dos yanomamis



O problema da autocrítica é que ela costuma chegar tarde. Mas sinto, como jornalista, um constrangimento diante do noticiário sobre os yanomamis. A imprensa não ignorou o consórcio que uniu Bolsonaro ao crime. Não deixou de noticiar decisões judiciais que saíram em socorro dos indígenas —como os despachos do ministro do Supremo Luís Roberto Barroso impondo ao Estado a assistência às comunidades indígenas durante a pandemia. Alguns repórteres revelaram-se mais atentos, mergulhando num tema que a maioria —na qual me incluo— só percorreu na superfície.

Foi preciso que Lula, no alvorecer de um novo governo, visitasse Roraima para que o genocídio ganhasse visibilidade. Hoje, há vergonha e redenção no noticiário sobre os yanomamis. Há vergonha porque o brasileiro tropeça em dados aviltantes cada vez que lê uma notícia sobre situação a que foram submetidos os indígenas e o meio ambiente em que vivem. Há redenção porque a ação humanitária e a operação de retirada dos garimpeiros que cometiam crimes variados dentro da reserva yanomami dão mais nitidez ao reencontro do Brasil com a lei e o humanismo.

Nesta quarta-feira, uma escavadeira encontrada no meio da floresta foi destruída. Fiscais do Ibama atearam fogo num avião de garimpeiros. Agentes da Força Nacional interceptaram três barcos em fuga. Apreenderam combustíveis, eletrodomésticos e suprimentos.

Sob Bolsonaro, aviões da Força Aérea Brasileira davam carona a criminosos ambientais para reclamar em Brasília da atuação dos órgãos de controle. Servidores públicos que tentaram cumprir a lei foram enviados para o freezer. Hoje, a FAB despeja os agentes do Estado na cena do crime. Os fiscais saíram do congelador para destruir o equipamento dos criminosos, como autoriza a lei.

Sob Lula, o Brasil se reencontrou em Roraima com a Constituição e com os valores civilizatórios. O crime voltou a ser crime. A lei, que havia sido revogada por quatro anos, voltou a valer.

Para que o ciclo se complete, será necessário promover um encontro dos criminosos com as suas respectivas sentenças. Vale para os violadores da floresta, para os estupradores de indígenas, para os compradores de ouro ilegal em São Paulo... Precisa valer também para Bolsonaro, que usurpou e afrontou a Presidência da República com o seu instinto genocida.

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