quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Bolsonaro e Trump selam união de Lula e Biden



O encontro de Lula com Joe Biden ocorrerá três dias depois do discurso anual do presidente americano ao Congresso. Nele, Biden fez declarações sobre democracia e ódio que tornam sua aproximação com Lula incontornável e natural. Biden disse, por exemplo: "Não há lugar para violência política nos Estados Unidos. Devemos proteger o direito de voto, não suprimir esse direito fundamental. Honramos os resultados de nossas eleições, não subvertemos a vontade do povo. Não podemos dar porto seguro ao ódio e ao extremismo em nenhuma forma."

Trocando-se Estados Unidos por Brasil, o discurso poderia ser repetido por Lula no Congresso brasileiro sem modificar uma vírgula. É como se Bolsonaro e Donald Trump selassem a união de Lula com Biden. A sintonia converteu o risco democrático em item central da agenda do encontro que ocorrerá na Casa Branca nesta sexta-feira. Os dois presidentes aproveitarão os seus respectivos Capitólios para enfatizar a necessidade de combater o extremismo de ultra-direita no mundo. Os resultados práticos da parceria são incertos.

Há sintonia também na agenda ambiental. Nessa matéria, Lula reposicionou o Brasil do lado certo da civilização ainda na campanha eleitoral. Resta saber se Lula conseguirá monetizar o reposicionamento ambiental do Brasil.

Noutros pontos, Biden não está tão afinado com Lula. O presidente americano está fechado com a Ucrânia na guerra iniciada pela Rússia. Rola uma crise diplomática com a China. Não parece permeável à ideia de Lula de constituir um grupo de países para negociar a paz entre ucranianos e russos, tendo a China como uma espécie de dínamo da concórdia.

Seja qual for o resultado, a viagem representa um avanço. Há oito meses, num encontro reservado com Biden, Bolsonaro pediu a Biden apoio para bater a carteira da vontade popular nas eleições brasileiras de 2022. Agora, Lula vai a Washington para conversar sobre a defesa da democracia.

Lula deveria ter incluído na sua comitiva os comandantes das Forças Armadas. Chegando a Washington, pediria autorização a Biden para trancar os militares brasileiros numa sala com general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos.

Lá, como aqui, houve oficiais da reserva sugerindo perversões antidemocráticas. Ao farejar a pólvora, o general Milley captou um aroma do nazismo. "Esse é um momento do Reichstag, o Evangelho do Führer", disse ele, comparando os arroubos de Trump aos ataques de Hitler contra a democracia na Alemanha. Os militares brasileiros que flertaram com o fascismo bolsonarista precisariam dessa aula.

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