Bolsonaro não faz nada para desencorajar os arruaceiros em Brasília e, ao contrário, os estimula com seu silêncio conivente
O silêncio do presidente Bolsonaro, diante das evidências de que germinou no acampamento de seus seguidores em frente ao Q.G. do Exército o atentado terrorista planejado para implantar o caos no entorno do Aeroporto de Brasília com a explosão de uma bomba, o coloca como cúmplice dos atos tresloucados que vêm tendo origem nessas aglomerações de golpistas que anseiam por uma intervenção militar que impeça a posse do presidente eleito, Lula.
Anteriormente já havia acontecido aquela insurreição nas principais vias de Brasília, com a invasão da sede da Polícia Federal onde estava preso um cacique bolsonarista. Os arruaceiros saíram do grupo acampado diante do Palácio da Alvorada apelando para que o presidente Bolsonaro assuma o comando de um autogolpe.
O atual presidente não faz nada para desencorajá-los e, ao contrário, os estimula com seu silêncio conivente, ou meias palavras que sugerem a possibilidade de que alguma coisa pode acontecer — e basta para alimentar os radicalizados. Como se diz popularmente, Bolsonaro bate palmas para maluco dançar. A depressão que domina o candidato derrotado à eleição presidencial parece muito mais decepção com a falta de adesão ao golpe por parte dos militares do que pela derrota para Lula.
Claro que a constatação de que poderia ter ganhado, tão pequena foi a diferença, deve estar fazendo Bolsonaro e sua tropa se contorcerem por dentro. Teria sido mais fácil instalar um governo autoritário vencendo a reeleição. Tudo estaria protegido pela palavra das urnas, as mesmas urnas eletrônicas que ele acusava de ser passíveis de fraude para justificar uma derrota, que realmente veio.
Mas apenas os poucos fanáticos reunidos à porta de quartéis pelo país afora ainda acreditam que houve fraude e que a derrota foi forjada. Se vencesse, aí, sim, teríamos um grave problema pela frente porque o presidente-candidato usou e abusou de seus poderes para alavancar sua votação. Quebrou diversas regras, escritas e não escritas, na campanha eleitoral e usou a máquina pública para impor seu nome aos eleitores.
Alegam os bolsonaristas que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) também abusaram de seus poderes para atrapalhar a campanha de Bolsonaro, com a intenção de ajudar Lula.
Sou daqueles que discordaram da decisão do STF de considerar o juiz Sergio Moro parcial nos julgamentos de Lula, anulando suas condenações e permitindo que as diversas instâncias inferiores arquivassem os processos, sem retomá-los em outras jurisdições. Não desconheço que certas ações de Moro e dos procuradores da Lava-Jato extrapolaram suas funções e que atitudes posteriores do ex-juiz serviram para confirmar que o objetivo principal da operação era prender Lula.
Mas considero teratológico, para usar um termo em juridiquês, que tenham levado cinco anos para descobrir que a instância correta para o julgamento de Lula não era Curitiba. Não entendo, também, que os processos não tenham continuado nas instâncias consideradas apropriadas pela Justiça, para que se definisse se o ex-presidente Lula era inocente das acusações ou não.
Também não creio que as decisões do STF a favor de Lula tenham sido adotadas para permitir que se candidatasse, assim como não creio que sua inabilitação em 2018, devido à Lei da Ficha Limpa, tenha sido um abuso de autoridade. Travou-se, nesse período, uma disputa nada surda entre integrantes do STF, de um lado, e Moro e os procuradores da Lava-Jato, de outro. Os mesmos que até certo ponto louvavam a operação, atuando firmemente para impedir ações políticas que blindariam Lula, como a nomeação para a Casa Civil da então presidente Dilma, passaram a figadais adversários, numa disputa política aberta.
No Brasil é frequente que investigações policiais e condenações sejam anuladas por tecnicalidades, especialmente quando atingem os “donos do poder”. Quando um desses, o então senador Romero Jucá, disse que era preciso “estancar a sangria, com o Supremo, com tudo”, sabia o que estava dizendo. Mesmo que o objetivo central da Operação Lava-Jato fosse prender Lula, até chegar a ele houve diversas prisões de políticos e empresários que jamais seriam presos se certas regras não escritas não tivessem sido quebradas.
Quando a operação atingiu outros que não os petistas, a maré política virou-se contra ela. O resultado disso foi a desastrosa eleição de um militar de baixa extração, saído do Exército justamente por ter sido indisciplinado e organizado um atentado à bomba para desestabilizar o então ministro Leônidas Pires Gonçalves. A mesma razão alegada pelo “empresário” que colocou bombas no aeroporto de Brasília “para causar comoção e levar a uma intervenção militar”.
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