Da economia à cultura passando pelo meio ambiente, Jair Bolsonaro deixa para seu sucessor uma série de heranças malditas. Eu gostaria de discutir hoje o espólio bolsonarista na saúde.
Arrumar o SUS, subfinanciado e mal gerido, é tarefa para mais de um governo e tem como pressuposto o equacionamento do problema fiscal. Não adianta muito despejar mais dinheiro no sistema, mas criar uma inflação que empurra os cidadãos mais vulneráveis para piores condições de vida e de saúde.
Penso que a principal prioridade do governo Lula será manter o SUS operante, o que é mais difícil do que parece. Bolsonaro plantou algumas bombas pelo caminho, e a pandemia criou uma importante demanda reprimida por diagnósticos e procedimentos. Eu reforçaria ainda dois aspectos da prevenção, primária e secundária, que, se deixados de lado, poderão piorar o panorama nos próximos meses e anos.
O primeiro é o enfraquecimento do PNI (Programa Nacional de Imunizações). O atual presidente não é o único responsável. Quedas nas taxas de cobertura vacinal para várias doenças já vinham sendo registradas em gestões anteriores. E o negacionismo imunológico, do qual Bolsonaro é um entusiasta, não parece ser o principal fator a explicar o fenômeno no Brasil.
Candidatos mais prováveis são a perda do sentimento de urgência em relação às moléstias da infância (um efeito adverso do próprio sucesso das vacinas) e uma estrutura de horário de funcionamento de postos de saúde que não facilita muito a vida de mães que trabalham. Sejam quais forem os motivos, uma administração responsável não pode assistir parada a isso.
Outra encrenca que Bolsonaro planta para Lula é o desfinanciamento de programas como o Farmácia Popular. Deixar de fornecer os medicamentos de uso contínuo para pacientes hipertensos e diabéticos é um convite ao AVC e a outros agravos que, na ponta do lápis, acabam custando mais do que as drogas.
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