Lula colocou para rodar em Brasília um filme conhecido dos brasileiros. O roteiro não está fechado. Falta definir a posição dos atores em cena. Mas o esboço já permite intuir que o final do filme não será feliz. Reuniram-se com Lula nos últimos dias representantes de três partidos. As conversas abriram o apetite das legendas. Em troca de apoio congressual, reivindicam sete ministérios: três para o MDB, dois para o PSD e outros dois para o União Brasil.
Lula terá que compatibilizar a fome dos neoaliados com as expectativas do PT e de partidos como PSB, PSOL e PC do B, que integraram a sua coligação. Foi reaberto o mercado das barganhas. Os partidos estão de novo no noticiário, pela enésima vez, pleiteando, pedindo, querendo pedaços do Estado. Ainda não se sabe se a seleção brasileira conquistará o sexto título no Qatar. Mas Lula, antes mesmo de tomar posse, já deu ao fisiologismo a aparência de hexacampeão.
Sarney pagou todos os cheques assinados por Tancredo antes de morrer. Collor achou que poderia desalojar os larápios alheios para abrigar os seus próprios cúmplices. Foi deposto. FHC deu ao bazar um rótulo intelectual, situando a barganha em algum lugar entre as duas éticas de Max Weber —a ética da convicção e a ética da responsabilidade. Lula prometeu restaurar a moralidade em 2002. Eleito, traiu a história para cair na vida. Deixou para Dilma um legado de perversão. Bolsonaro transferiu a perversão de baixo da mesa para dentro do orçamento secreto. Lula 3 deixa tudo como está para ver como fica.
Alega-se que Lula não teria como fazer diferente. Será? Como reagiriam os partidos se fossem convidados a apoiar ministros equipados tecnicamente e de reputação inquestionável? Por que não vincular as emendas parlamentares a programas em que o interesse público possa ser compatibilizado com a conveniência política?
Impossível saber se funcionaria o que não será testado. Mas não se deve esperar que velhas práticas resultem em resultados novos. A história mostra que o fisiologismo não produz senão ineficiência e corrupção. Resta a expectativa de que Lula consiga manter ministérios como o da Fazenda, da Educação, da Saúde e do Meio Ambiente fora da zona da gandaia.
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