O bolsonarismo está se tornando uma seita em extinção e nem os Bolsonaro querem saber mais dela
Em Pernambuco, um patriota abraçou-se a um caminhão para impedir que ele furasse um bloqueio na estrada e rodou crucificado ao para-brisa por quilômetros em alta velocidade. No Paraná, patriotas de mãos dadas cantaram o Hino Nacional para um pneu entronizado no meio da rua –o pneu ouviu o hino em respeitoso silêncio. No Rio Grande do Sul, outra multidão de patriotas piscou seus celulares para o céu, tentando supostamente chamar a atenção de E.Ts. para que venham impedir a posse de Lula.
Já para uma patriota talvez também gaúcha, não há motivo para desespero. No dia 1º de janeiro, Brasília será palco de uma metempsicose: a alma de Bolsonaro transmigrará para o corpo de Lula no ato de posse e Bolsonaro continuará governando, só que no corpo do inimigo. A vidente não explicou o que será do corpo de Bolsonaro, subitamente oco, ou se a alma de Lula, despejada e sem teto, se mudará para o dele.
Enquanto isso, alheios ao Além, mais patriotas fazem penosas vigílias diante de quartéis pelo país, aguentando frio, chuva, água pelas canelas, sem ter onde sentar, passando a esfiha e pizza fria, dormindo ao relento e aliviando-se em banheiros químicos ou no mato –tudo isso para que as Forças Armadas saiam do conforto e cumpram sua obrigação de salvar o país com uma intervenção federal, digo golpe.
Por sorte, nem todo mundo aderiu à insânia. Políticos, empresários, agros, pastores, partidos e até militares, que se faziam de bolsonaristas hidrófobos, já estão conversando com o novo governo. Eduardo Bolsonaro, filho 03, foi flagrado vibrando na torcida brasileira no Qatar, indiferente ao desespero dos patriotas. E, pelo sumiço, prostração e silêncio de quase um mês, nem Bolsonaro, abandonado pelas redes digitais, quer saber mais de Bolsonaro.
O bolsonarismo está se tornando uma seita em extinção e seus últimos fiéis são patriotas sujeitos a uma rima óbvia.
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