A omissão de Bolsonaro deu a Lula a oportunidade de impor uma derrota legislativa ao antecessor antes de tomar posse. A adesão de parte do bolsonarismo à PEC da Transição deu à vitória de Lula no Senado uma aparência de goleada. Os operadores da transição estimavam que até 55 senadores aprovariam a emenda constitucional. O placar registrou 64 votos a favor. Desse total, 11% vieram de legendas bolsonaristas: três do PL, três do PP e um PTB. (veja como votaram os senadores).
Até o senador Eduardo Gomes, líder de Bolsonaro no Congresso, filiado ao PL, partido do presidente, disse "sim" à PEC que concedeu a Lula R$ 168 bilhões para resgatar promessas de campanha e realizar investimentos. Somando-se a outros penduricalhos incluídos no texto —como a permissão para usar valores esquecidos em contas do PIS-Pasep— a cifra excluída do teto de gastos ultrapassa os R$ 200 bilhões. Nem os mais otimistas operadores da transição imaginaram semelhante êxito.
Presente à sessão, o primogênito Flávio Bolsonaro foi ao microfone para desaconselhar a aprovação da PEC. Previu que a emenda trará mais inflação, numa "corrida a passos largos para empobrecer os mais pobres." Avaliou que a aprovação seria "um tiro no pé do Congresso". Referindo-se ao prazo de validade da licença concedida a Lula para gastar, o filho de Bolsonaro declarou que "a PEC está transformando o Congresso em algo descartável por dois anos."
Faltou a Flávio Bolsonaro senso de oportunidade e senso de ridículo. O filho de um presidente que explodiu o teto de gastos cinco vezes e comprou congressistas com o orçamento secreto não tinha muito a dizer sobre responsabilidade fiscal e valorização do Legislativo. Flávio esqueceu de lembrar —ou lembrou de esquecer— que foram incluídos na PEC de Lula artigos que ajudam a pagar as contas da ruína produzida por Bolsonaro. O Zero Um preferiu demonstrar com palavras o oco dos seus raciocínios desconexos. Adicionou vexame a um epílogo melancólico.
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