Documento mostra destruição promovida por Bolsonaro; Lula erra ao divulgá-lo junto ao anúncio de novos ministros
Lula errou ao divulgar o relatório final da transição no mesmo dia em que anunciou os nomes de mais 16 ministros do novo governo. Como era de se esperar, escolhidos e preteridos monopolizaram as atenções. O diagnóstico da máquina federal acabou em segundo plano.
O texto fornece uma radiografia da gestão de Jair Bolsonaro. Registra o desmonte do Estado, o abandono de políticas públicas, os retrocessos na área social. “O governo federal andou para trás”, resumiu o vice Geraldo Alckmin. Uma forma polida de descrever o que se passou nos últimos quatro anos.
No meio ambiente, a demolição foi calculada. O bolsonarismo desossou os órgãos de controle. O número de fiscais do Ibama, que já chegou a 1.800, despencou para cerca de 700. O Fundo Amazônia foi congelado com R$ 3,3 bilhões em caixa. Com as autoridades de braços cruzados, o desmatamento da floresta aumentou 60%. A maior alta num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988.
Na saúde, a piora foi generalizada. Houve redução das taxas de cobertura vacinal, aumento das mortes maternas, retorno das internações por desnutrição infantil. Desde o ano da eleição de Bolsonaro, o SUS foi depenado. Perdeu quase R$ 60 bilhões, descontando os gastos extraordinários na pandemia.
No país do agronegócio, o governo esnobou a agricultura familiar e desmantelou os estoques reguladores. A queda no armazenamento de arroz chegou a 95%. Isso favoreceu a escalada da inflação de alimentos, colaborando com a volta do Brasil ao Mapa da Fome.
O cenário de terra arrasada se repete em quase todas as áreas. Na educação, a verba da merenda escolar estancou em 36 centavos por aluno. Na assistência social, a espera pelo BPC saltou de 78 para 311 dias. Na habitação popular, a União zerou as contratações para famílias de baixa renda. No combate à seca, o programa que já levou 1 milhão de cisternas ao semiárido não entregará nem mil em 2022.
A sociedade precisa conhecer e discutir os dados colhidos pela transição. Isso não significa que eles devam ser usados como desculpa para erros do futuro governo. Lula foi eleito para enfrentar os problemas, não para reclamar deles.
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