quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Ausência de reunião de Lula com Bolsonaro expõe anormalidade do novo normal



Dez dias depois de ser declarado presidente eleito pela terceira vez, Lula desembarcou em Brasília. Terá encontros com todos os chefes de Poder, exceto com Bolsonaro. O absurdo adquiriu tanta proeminência no Brasil que o brasileiro já suprimiu dos seus hábitos o ponto de exclamação. Mas o desprezo de Bolsonaro às regras mais elementares da civilidade democrática é algo jamais visto. Ele sonega ao sucessor toda a delicadeza institucional de que foi beneficiário quando venceu a eleição presidencial de 2018.

Lula marcou conversas com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado. Deseja azeitar a aprovação no Congresso de uma licença para gastar algo como R$ 175 bilhões acima do teto constitucional de gastos, ainda não revogado. Obteve o agendamento de reuniões com Rosa Weber e Alexandre de Moraes, chefes do Supremo e do TSE. Quer virar a página das desavenças que marcaram as relações do Executivo com o Judiciário na era Bolsonaro.

Na transição passada, Michel Temer seguiu as melhores práticas dos antecessores, oferecendo a Bolsonaro fidalguia, dados sigilosos do governo e a residência da Granja do Torto, para lhe servir de teto antes da posse. Hoje, Bolsonaro oferece a Lula descortesia, sabotagem e o relento. O imóvel de veraneio da Granja do Torto está ocupado pelo ministro Paulo Guedes, da Economia.

Lula deve se mudar para Brasília até o final do mês, depois de sua participação na conferência climática da ONU, a COP27, na semana que vem. Será compelido a se abrigar num hotel ou numa casa alugada. Dará mais trabalho à Polícia Federal, que teve que incluir no aparato de segurança do presidente eleito cuidados inéditos. Além de varreduras contra grampos telefônicos, inspeções contra invasões cibernéticas. Intensificaram-se as buscas por artefatos explosivos nos ambientes frequentados por Lula.

Nesse contexto intoxicado, a ausência de contato entre Lula e Bolsonaro é adicionada à rotina nacional como a parte da anormalidade que passou a compor o novo normal na política brasileira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O administrador do Blog não se responsabiliza pelos comentários de terceiros.