O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-SE), em encontro com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB) |
Como se planejasse dificuldades, o governo de transição anunciou que pretendia obter do Congresso uma licença para Lula gastar R$ 175 bilhões anuais, sem amarras fiscais, por tempo indeterminado. De repente, elevou a pretensão para quase R$ 200 bilhões. Pode-se dizer, sem medo de errar, que a chamada PEC da Transição será aprovada. Com que texto? Aquele que conseguir três quintos dos votos em dois turnos de votação. Nessa conta, Lula precisa seduzir pelo menos 49 dos 81 senadores e 308 dos 513 deputados.
Para obter essa quantidade de votos, Lula e seus operadores terão que aplicar redutores em suas pretensões. Disseminou-se no Congresso o desejo de impor limites a Lula, de forma a manter o próximo presidente no cabresto. Os R$ 200 bilhões terão que cair para uma cifra mais próxima de R$ 100 bilhões. Dinheiro suficiente para pagar o Bolsa Família de R$ 600, o reajuste do salário mínimo e outras rubricas sociais.
Em vez do prazo indeterminado, um ano de Bolsa Família fora do teto. Ao farejar o cheiro de queimado, os operadores da transição passaram a reivindicar quatro anos, o tempo do mandato de Lula. Se pagar o preço do centrão e assumir compromissos com a reeleição dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, Lula talvez consiga esticar o prazo para dois anos. Precisará assumir negociar desde logo uma nova regra fiscal para colocar no lugar do desmoralizado teto de gastos.
Tropeçando nas próprias pernas, o governo de transição corre contra o relógio. Lula havia transformado o senador eleito do PT Wellington Dias, ex-governador do Piauí, em seu principal interlocutor na negociação da PEC no Congresso. Não funcionou. Os mandachuvas do Legislativo se queixam de que Dias não passa a segurança de que o futuro governo pagará os cheques que ele se dispõe a assinar.
Entrou em cena outro senador petista, o baiano Jaques Wagner. É mais jeitoso e transita melhor entre as legendas. Entretanto, quem tem dois negociadores políticos não costuma ter nenhuma articulação. Ou Lula dá mão forte a um preposto, antecipando sua conversão em ministro, ou terá de assinar pessoalmente suas faturas.
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