O segundo-sargento da Aeronáutica Francisco Roksinaidy tem colaborado com o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, em que manifestantes pedem uma intervenção das Forças Armadas em razão da derrota eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL).
A manifestação político-partidária de integrantes da ativa das Forças Armadas é vedada pelo Estatuto dos Militares.
A Constituição proíbe a filiação de militares da ativa a partidos políticos. Já a norma que rege a categoria diz que é proibida "quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político".
O próprio militar divulgou imagens de sua participação nas suas redes sociais, que são abertas. Nelas, é possível ver Roksinaidy mostrando as instalações do acampamento e até carregando um carrinho de mão para ajudar no desembarque de água.
Em um dos vídeos, publicado em 5 de novembro, um sábado, o segundo-sargento caminha pela cozinha comunitária do acampamento e diz que "tudo que é produzido [no acampamento] é gratuito para a população".
Ele também afirma que os mantimentos vêm de doações. Em seguida, pede contribuições aos seguidores dizendo que há um Pix para isso.
Roksinaidy ainda incentiva que acampamentos semelhantes sejam feitos em outros estados. O segundo-sargento conclui o vídeo dizendo "vem para a rua, meu povo, vem para a rua".
Ele aparece vestido com uma camiseta da seleção brasileira, que virou símbolo de manifestações pró-Bolsonaro.
Procurado pela Folha, o militar disse que não participa do acampamento porque é militar da ativa e por isso não pode apoiar ninguém. "Lá no Quartel-General [local do acampamento] eu só passo porque é perto do meu quartel, não estou fazendo nenhum tipo de manifestação", disse.
Questionado sobre quando ajudou a carregar água, conteúdo postado por ele mesmo, o militar respondeu que "estava com sede" e que levou água "para meus filhos que estavam na casa de uma tia que mora perto".
Além de mostrar o dia a dia no acampamento, Roksinaidy também faz propaganda para Bolsonaro. Em um vídeo no qual está fardado, ele lê um versículo da Bíblia que diz que "o coração do sábio o inclina para a direita, o coração do tolo o inclina para a esquerda".
Em seguida, faz o sinal da cruz enquanto seus dedos simulam uma arma, outro símbolo usado por apoiadores do presidente.
Procurados, o Ministério da Defesa e a Aeronáutica não responderam aos questionamentos feitos pela Folha.
O acampamento que pede uma intervenção militar para reverter o resultado das eleições vencidas pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está no Setor Militar Urbano, uma área em Brasília de responsabilidade das Forças Armadas. O policiamento no local, por exemplo, é feito pela Polícia do Exército.
O Exército chegou a solicitar ao governo do Distrito Federal o fornecimento de ambulância e a limpeza no local. Além disso, documento enviado pela Força às autoridades do DF também pede que seja coibida a presença de ambulantes no local.
O ofício foi classificado como "urgentíssimo" e enviado à Secretaria de Segurança Pública do DF pelo chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto, coronel Fabiano Augusto Cunha da Silva, em 4 de novembro.
Professor de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília) e especialista na participação política dos militares na história do Brasil, Rodrigo Lentz argumenta que "as aglomerações [em frente aos quartéis] têm recebido institucionalmente a partir dos comandos não só simpatia, mas também auxílio".
Isso ficou demonstrado, prossegue ele, no ofício do Comando Militar do Planalto pedindo ajuda ao GDF para garantir a estrutura do acampamento.
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