quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Bolsonaro sai do Planalto, mas fica no seu bolso



Bolsonaro gosta de repetir que "é preciso tirar o Estado do cangote de quem produz." A recíproca não é verdadeira. Embora jamais tenha produzido um palito de fósforo, Bolsonaro não sai do pescoço do contribuinte. Em 1º de janeiro, deixará a Presidência da República. Mas continuará dentro do bolso do contribuinte. Será abrigado na folha do PL, partido de Valdemar Costa Neto. Além de salário, deve dispor de casa, escritório e verba para os advogados.

Graças ao arranjo partidário, o relacionamento de Bolsonaro com o erário fará aniversário de meio século em 2023. Repetindo: o capitão completará 50 anos de dependência estatal. Patriota extremado, casou-se com a pátria em 1973, quando ingressou, aos 18 anos, no Exército. Expurgado da força em 1988, saiu pela porta lateral da desonra. No ano seguinte, elegeu-se vereador. Depois, deputado estadual. Na sequência, deputado federal.

Após quase três décadas de Congresso, Bolsonaro saltou do baixo clero parlamentar para o Planalto. Desceu ao verbete da enciclopédia como primeiro presidente a ter a reeleição sonegada pelo eleitor. Deveria deixar o contribuinte em paz. Mas o fracasso subiu-lhe à cabeça. Como ex-presidente, terá à disposição dois carros oficiais de luxo (incluindo combustível e manutenção) e oito servidores públicos: dois motoristas, quatro seguranças e um par de assessores.

Bolsonaro deixará de receber o contracheque. Entretanto, o Portal da Transparência informa que o capitão embolsa R$ 11,3 mil mensais de sua aposentadoria como militar. Poderia complementar a renda ralando num emprego qualquer na iniciativa privada. Mas não desenvolveu na vida senão a vocação para o usufruir de mamatas estatais.

Presidente desde 2019, o capitão passou a dispor de palácio residencial, automóveis na garagem, helicópteros no quintal, aviões no hangar, leite condensado na geladeira e todas as mordomias que o dinheiro público pode bancar. Em troca, entregou tuítes, crises, caneladas, negacionismo, cloroquina, desmatamento, isolamento internacional, bolacha na merenda, motociatas, estouro fiscal e um interminável etcétera.

Despachado do Planalto pelo voto, Bolsonaro transfere o ódio dos seus devotos das redes sociais para as ruas. Insinua que o processo eleitoral foi injusto. Não se dispõe a passar a faixa ao sucessor. E ainda será premiado com salário mensal do PL. O "Bolsa Valdemar" não será de R$ 600, como o Auxílio Brasil. Deve roçar os R$ 30 mil. Você talvez preferisse que o dinheiro dos seus impostos fosse aplicado em outra coisa. Mas a insatisfação alheia costuma ser algo financeiramente irrelevante quando os partidos torram o dinheiro público como se fosse verba grátis.

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