sábado, 12 de novembro de 2022

Rebuliço militar reforça a urgência de devolver pasta da Defesa a um civil



O resultado das eleições presidenciais deixou buliçoso o pedaço bolsonarista das Forças Armadas. Nas últimas 48 horas, vieram à luz três notas oficiais de militares. Todas inadequadas. Na mais recente, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica encostam as forças que representam nos delírios golpistas de Bolsonaro. Sustentam, com outras palavras, que são justificáveis os atos antidemocráticos que clamam na frente dos quarteis por uma intervenção qualquer dos militares para reverter a vitória de Lula. Tanto rebuliço não serve senão para evidenciar a necessidade urgente de devolver a chefia do Ministério da Defesa a um civil.

Ao confundir cargo com propriedade e bagunça com atividade, Bolsonaro levou as "minhas Forças Armadas" a confundirem general com generalidades. Habituados a ordenar o transporte de urnas, os comandantes militares acharam que poderiam também fiscalizar a mercadoria. Deu em humilhação. Abespinhados com o teor do relatório sobre a inspeção em que os militares não encontraram fraudes nas urnas, os bolsonaristas que tomaram chuva pedindo golpe militar promoveram uma intervenção civil nos perfis do Ministério da Defesa nas redes sociais.

Assustado com a invasão digital, Paulo Sérgio Nogueira, o general que ainda comanda a escrivaninha de Ministro da Defesa, explicou numa segunda nota que os militares não acharam inconsistência nas urnas, mas também não excluíram a hipótese de ter ocorrido fraude no processo eleitoral. Foi como se o general gritasse para os golpistas: "Não esmoreçam!"

Os repórteres correram para perguntar ao presidente do TSE, Alexandre de Moraes, se o conflito entre a farda e a Justiça Eleitoral não teria mais fim. E ele: "Já acabou faz tempo". Ou seja: no momento, os "generais" de Bolsonaro guerreiam apenas contra suas generalidades e contra a intervenção civil que os bolsonaristas realizam nas redes sociais militares.

Passa da hora de reacomodar um civil no Ministério da Defesa. Em respeito à historiografia, convém registrar que foi Michel Temer, não Bolsonaro, quem inaugurou a perversão de confiar a chefia da Defesa a um militar. A coisa foi desvirtuada em 2018, quando Temer nomeou para o posto como o general Joaquim Silva e Luna.

Ouvido na época, Fernando Henrique Cardoso, que havia criado a pasta da Defesa 19 anos antes, declarou que colocar um civil acima dos comandantes das três forças militares era importante porque simbolizava o poder que deveria prevalecer numa democracia. É hora de expurgar a política dos quarteis, recolocando as Forças Armadas sob o poder civil.

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