quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Lula despiu Jair Bolsonaro da faixa presidencial



A passagem de Lula por Brasília deu ao Palácio do Planalto a aparência de sede de um governo de transição. O presidente eleito governa como se já tivesse tomado posse. Numa rodinha de políticos, Lula referiu-se a Bolsonaro como "maluco". Movimenta-se como se quisesse tratar o antecessor de suas loucuras. Na prática, Lula despiu Bolsonaro da faixa presidencial. Gostaria de vestir nele uma camisa de força. Como não pode, antecipa a alta do paciente.

Lula acertou com o Legislativo a aprovação da emenda constitucional que reformará o orçamento que a equipe de Paulo Guedes deformou. Lapidando articulações iniciadas pelo vice Geraldo Alckmin, Lula alisou a pele do centrão. Falta acertar o preço do apoio à emenda que garantirá o Bolsa Família e outras despesas. Antes, falava-se em acabar com o orçamento secreto. Agora, cogita-se incluir na transação da transição até o pagamento de R$ 7,7 bilhões em emendas sigilosas que Bolsonaro prometeu, mas ainda não pagou.

Em visita ao Supremo, Lula restabeleceu a institucionalidade no convívio entre o Executivo e o Judiciário. Cumprimentou cordialmente até Nunes Marques e André Mendonça, as togas que Bolsonaro trata como gorjetas. Em entrevista que concedeu após a visita, Lula anunciou para depois da viagem ao Egito a escolha dos ministros. Voará para a conferência climática da COP27 deixando para trás um rastro pegajoso de dúvidas.

Repetiu o bordão da campanha segundo o qual certas despesas não são gastos, mas "investimentos". Disse que, no dia seguinte à posse, já serão deflagradas obras públicas ao redor do país, para gerar empregos. Faltou explicar de onde virá o dinheiro. Da dívida pública? Da Petrobras? Do BNDES? Gasto ou investimento, nada se faz sem dinheiro.

Ao comentar os movimentos antidemocráticos que questionam sua vitória, Lula aconselhou Bolsonaro reconhecer a derrota, chorar em casa e se equipar para a próxima eleição. Certo, muito certo, certíssimo. Faltou dizer que as chances de êxito do projeto "Bolsonaro 2026" crescem se o governo seminovo do PT for um desastre. A hora é de mostrar serviço, não de atear interrogações na conjuntura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O administrador do Blog não se responsabiliza pelos comentários de terceiros.