quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Lula, Persio, Resende e produção X Bolsonaro, Valdemar, Mourão e bloqueio



Luiz Inácio Lula da Silva reúne-se nesta terça com Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidentes, respectivamente, da Câmara e do Senado. Com acerto, pediu um tempo até bater o martelo sobre a PEC da Transição, que vai garantir os recursos para os R$ 600 do Bolsa Família; os R$ 150 suplementares por criança abaixo de 6 anos; o aumento real do mínimo; a retomada do programa Farmácia Popular... Tornar disponíveis esses recursos é um pressuposto para começar a governar. É sensato que bata o martelo depois de falar com os comandantes do Parlamento. A negociação que o governo eleito empreende nasceu quando Jair Bolsonaro mandou para o Congresso uma peça orçamentária de ficção.

Na área econômica, os escolhidos para a transição são André Lara Resende, Persio Arida, Nelson Barbosa e Guilherme Mello. Os dois primeiros têm no seu currículo nada menos do que o Real, o plano de estabilização econômica mais bem-sucedido da história recente — no mundo. Os outros mantêm ligações intelectuais com o PT — e não custa lembrar que Lula é petista e que o partido é a principal força política da frente ampla em nome da qual o agora eleito levou adiante a sua postulação. Há divergências que podem levar à paralisia. Há outras que chegam a sínteses surpreendentes, como espero que aconteça. Todos ali têm experiência suficiente para entender o tamanho do problema.

No front político, o PT atraiu o PSD, comandado por Gilberto Kassab, abriu um canal de negociação com o MDB e mantém conversa amigável com parte ao menos do União Brasil. A senadora Simone Tebet, ministeriável, será uma das referências da área de "desenvolvimento social", como chamou Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito e coordenador geral da transição. Na área, diga-se, estão confirmadas Márcia Lopes e Tereza Campello, duas das maiores especialistas do país em programas de renda. Em Saúde, Educação, Segurança, contam-se nomes comprometidos com a causa pública, não pistoleiros interessados em colonizar o Estado com suas alucinações ideológicas.

Até agora, a histórica e reconhecida habilidade de Lula para conversar e negociar parece estar dando resultado. Mas que se note: fala-se aqui apenas da transição. Muita barbeiragem, no entanto, já poderia ter sido cometida. Como esquecer a penca de barbaridades ambientais ditas por Bolsonaro, então presidente eleito, na primeira quinzena de 2018, prenunciando o desastre que sobreviria na área? Ele só desistiu de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, que queria atrelar ao da Agricultura, no dia 20 daquele mês, onze dias antes da posse.

Outra lembrança: no dia 28 de outubro de 2018, tão logo proclamado o resultado do segundo turno, Paulo Guedes, já confirmado como o superpoderoso da economia, teve um chilique quando indagado por uma jornalista do jornal argentino "Clarín" sobre o Mercosul. Irritado, disparou, como se a pergunta fosse ofensiva:
"O Mercosul é uma aliança de alguns países daqui. E se eu quiser negociar com o resto do mundo, podemos? O foco do programa é controle de gastos. Aí você pergunta: 'E o Mercosul?' Não é prioridade. A prioridade não é o Mercosul. Mercosul não é prioridade. Não, não é prioridade. É isso o que você quer ouvir? Você está vendo que tem um estilo que combina com o do presidente. A gente fala a verdade. A gente não está preocupado em te agradar".

Era o prenúncio. E o que se viu confirmou as piores suspeitas. Lula e Alckmin montaram um time de primeira para a transição. Que também seja prenúncio. E não! O que vem pela frente não é bolinho.

OS DOIS BRASIS
O país que pode vir à luz com o novo governo lembra um tempo em que, a despeito de todas as dificuldades, ainda transitávamos no orbital da normalidade. Como evidencio acima, já a "transição com Bolsonaro" antecipava o caos. E ele veio. E está aí.

Daqui a pouco, o Ministério da Defesa deve divulgar o seu relatório sobre a auditoria ou fiscalização das urnas — ou o que quer que se tenha feito por lá. Os seus "técnicos" não encontraram problema nenhum. Mas podem apostar: vão se negar a dar o seu "nada consta". E, sendo assim, é claro que emprestarão sobrevida a desocupados que pedem golpe à porta de quartéis. O movimento é financiado por dublês de empresários e criminosos. Para Hamilton Mourão, vice-presidente e senador eleito, os golpistas são patriotas.

Ontem, ao anunciar que o PL será oposição a Lula, Valdemar Costa Neto se negou a reconhecer o resultado das urnas. Disse que aguardaria o parecer da Defesa. E pensar que este senhor foi um dos maiores entusiastas do voto eletrônico. O PL ajudou a derrubar o voto impresso — com correção, diga-se.

Mas Valdemar, agora, tem de conviver com Bolsonaro em seu cangote. E a turma mais barulhenta entre os 99 deputados do PL é justamente a "bancada de Bolsonaro", anunciado como presidente de honra da legenda e já como candidato em 2026. É uma tentativa de constranger a Justiça...

O PL passa até a ter um lema: "Liberdade, verdade e fé, pelo bem do Brasil". O partido de Bolsonaro se diz preocupado com a "verdade". É piada pronta. O próprio presidente vive por aí a anunciar que "fake news" não é crime. Nota: é crime eleitoral, sim. Ao anunciar a condição de oposicionista, Valdemar afirmou que o partido lutará contra os "valores do comunismo e do socialismo". Eis aí: essa é a turma do bloqueio das vias, dos que pedem golpes, dos que resolvem conflitos com a pistola, dos que dizem orar para Deus, mas fazem o diabo...

É claro que Valdemar está negociando uma "pax" com Bolsonaro, afirmando tudo o que o presidente quer ouvir para evitar conflito. Sabe que uns 40 deputados, dos 99 eleitos pela legenda, acabarão votando muitas vezes com o futuro governo até em razão de questões regionais. Imaginar que esse casamento do "Boy" com o ainda presidente vai durar quatro anos é excesso de otimismo de quem vê essa aliança como virtuosa.

AS TREVAS
Esse país das trevas, com seus líderes trevosos, existe e precisa, obviamente, ser enfrentado e combatido. O golpismo virou uma praga e veste, às vezes, até a pele de colunistas da outrora grande imprensa. Quando se percebe, lá está um vagabundo a defender que o golpe de Estado é uma ideia como outra qualquer e que deve ser abrigada em nome da tolerância e da liberdade de expressão.

O canalha acha que a democracia deve abrigar o seu pensamento. Se, um dia, a sua tese prosperar, ele cala a divergência. Afinal, os seus valores pressupunham justamente a eliminação do adversário, que terá sido trouxa o bastante para tê-lo deixado agir à vontade. Você é um desses trouxas?

De um lado, Lula, Pérsio, Resende e produção; do outro, Bolsonaro, Valdemar, Mourão e bloqueios.

"Que é, Reinaldo? Está fazendo a luta do Bem contra o Mal?"

Não. Isso é coisa de canalha que usa a religião para fazer política.

Estou evidenciando que há um confronto entre defensores da democracia e pregadores do golpe.

Penso que a democracia é um bem concreto e que o golpismo é um mal concreto.

Não se trata de um confronto de abstrações, mas de concretudes. E eu tenho lado.

A luta continua.

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