Jair Bolsonaro perdeu a eleição, se trancou no palácio e não quer passar a faixa. O futuro ex-presidente tem dado sinais de que faltará à posse do sucessor. Deve repetir o exemplo de João Figueiredo, o último general da ditadura, que boicotou a solenidade em 1985.
A birra do capitão criou um problema para os organizadores da cerimônia. O vice-presidente Hamilton Mourão poderia ser escalado, mas já avisou que não vai substituir o titular. “Eu não sou o presidente. Não posso botar aquela faixa, tirar e entregar”, justificou, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
A transmissão da faixa simboliza duas coisas que Bolsonaro abomina: a democracia e a alternância de poder. O capitão não reconheceu a derrota, não ligou para o presidente eleito e não apareceu mais para trabalhar. Sumir no dia 1º de janeiro seria seu último ato de incivilidade.
Na véspera do segundo turno, o petista deixou claro que não faria questão de encontrar o antecessor na posse. “Se for necessário, eu recebo a faixa do povo brasileiro. Junto lá cem trabalhadores para me passarem a faixa e pronto. Não preciso dele”, desdenhou. A declaração dá pistas do que pode acontecer na cerimônia.
Na ausência do capitão e do general, petistas sugeriram que a faixa fosse entregue por Dilma Rousseff. Seria uma reparação histórica pelo impeachment de 2016. Embora agrade a militância, a solução é improvável. Lula foi eleito por uma frente ampla, que incluiu defensores da cassação da ex-presidente.
Outras sugestões já começaram a chegar à transição. Há uma torcida para que o grupo escolha uma mulher negra ou indígena, em sintonia com as causas da diversidade e da valorização das minorias.
Também há quem defenda uma solução inspirada em Gustavo Petro, o novo presidente da Colômbia. Ao tomar posse, em agosto, ele recebeu a faixa da senadora María José Pizarro. Ela é filha de Carlos Pizarro, ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19) que foi assassinado em 1990 em plena campanha presidencial. Eleito com discurso de pacificação, Petro usou a homenagem para lembrar o longo período de conflitos que marcou seu país.
Lula tem algumas alternativas se quiser seguir o exemplo do aliado. Uma delas seria escalar Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, a vereadora assassinada no Rio em 2018. A ativista recusou convites para ser candidata, fundou um instituto e tem se dedicado a projetos de educação e direitos humanos.
Outra possibilidade seria chamar a antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira. Ele foi morto em junho com o jornalista Dom Phillips, num crime que teve repercussão internacional e expôs a leniência do atual governo com a ação de quadrilhas na Amazônia.
A equipe da transição já se reuniu com o cerimonial do Itamaraty, mas o martelo deve ser batido por Lula e pela futura primeira-dama Janja Silva, que coordenará a organização da posse. A decisão deve levar em conta que o país pertence aos eleitores, não aos eleitos. Ao mudar de mãos a cada quatro ou oito anos, a faixa simboliza o caráter transitório do poder.
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