segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Com Bolsonaro recluso, Lula é compelido a 'governar' antes de tomar posse



Nos próximos dias, a efervescência da agenda de Lula, em contraposição à inatividade de Bolsonaro, tende a deslocar o epicentro do poder do Palácio do Planalto para o Centro Cultural Banco do Brasil, onde funcionará o governo de transição. Lula é compelido pelas circunstâncias a governar antes de tomar posse. Recluso no Alvorada, Bolsonaro já não administra adequadamente nem os seus rancores.

Desde que foi derrotado por Lula, Bolsonaro recolheu-se no palácio residencial. Sumiu do cercadinho. Quem procura a agenda presidencial no site do Planalto encontra um aviso: "Sem compromisso oficial." De raro em raro, recebe auxiliares no Alvorada. É contra esse pano de fundo que Lula desembarca em Brasília na terça-feira, munido de um roteiro intenso.

Terá reuniões com os chefes da Câmara, Arthur Lira; do Senado, Rodrigo Pacheco; e do Supremo, Rosa Weber. Conversará também com Alexandre de Moraes, a quem se diz grato pela condução do processo eleitoral no comando do TSE. Nos períodos de transição, a perda de força do presidente que está em fim de mandato é normal. A diferença no caso de Bolsonaro é que a reclusão voluntária do derrotado torna o enfraquecimento ainda mais intenso.

O próprio conceito de autoridade acaba debilitado quando o presidente troca o seu papel institucional de condutor da transição pelo estímulo cúmplice ao movimento de rua que prega o desrespeito ao resultado das urnas. Desconectado da realidade, Bolsonaro assiste a um processo de feudalização do poder. Seus apoiadores deslizam mansamente para o colo de Lula.

Entre os desafios do presidente eleito está o de instalar na sua transição uma porteira. Será necessário administrar as adesões.

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