sexta-feira, 4 de novembro de 2022

No 3º turno, escrúpulos vão ficando em 2º plano



Devagarinho, o terceiro turno vai migrando das ruas para o Congresso. Ali, Lula tenta reescrever o orçamento federal feito sob Bolsonaro para vigorar no primeiro ano do futuro governo. O Brasil já viveu muitas transições, cada uma com sua peculiaridade. Mas todas têm algo em comum: as boas intenções políticas do presidente eleito diminuem na proporção direta da aproximação do dia da posse.

Em campanha, Lula chamou o orçamento secreto de "maior bandidagem já feita em 200 anos". Acusou Arthur Lira, o presidente da Câmara, de "comprar os votos dos deputados" com o propósito de fazer "desgraceiras". Eleito, Lula avaliza acertos que podem manter o que chamou de "bandidagem", numa negociação com o rei Arthur.

A perversão orçamentária de Bolsonaro leva Lula a iniciar o seu governo antes da posse. O Orçamento federal de 2023 não tem verbas para o Bolsa Família em R$ 600 e para outras despesas básicas: de merenda escolar e farmácia popular à manutenção de estradas e fiscalização ambiental. Embora destelhado e desmoralizado, o teto de gastos ainda existe formalmente.

Para furar o teto em cerca de R$ 200 bilhões, Lula precisa da ajuda do centrão. Arthur Lira se dispõe a ajudar. Em troca, quer o orçamento secreto e a neutralidade de Lula na disputa pela presidência da Câmara em fevereiro. Até o aliado Renan Calheiros estranha a rapidez da rendição: "É uma barbeiragem", disse Renan. "O centrão já não cabe no orçamento."

À medida que avança no Congresso o terceiro turno, os escrúpulos vão ficando em segundo plano.

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