A transição de governo virou um torneiro de bodes. Lula e Arthur Lira colocaram seus bodes na sala um do outro. O presidente eleito jogou no Legislativo uma PEC que autoriza seu futuro governo a gastar por prazo indefinido quase 200 bilhões por ano livre de amarras fiscais. O chefe da Câmara empinou a tese segundo a qual o orçamento secreto precisa passar de opcional a impositivo. Lula seria obrigado a pagar as emendas opacas da turma do centrão.
Submetidos à conjuntura malcheirosa que criaram, Lula e Lira estreitam a inimizade. Se tudo correr como planejaram, os dois bodes sofrerão uma lipoaspiração. Em vez de R$ 200 bilhões, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, membro da transição, já considera aceitável uma cifra de R$ 136 bilhões. O centrão se dará por satisfeito se forem preservados no orçamento de 2023 os R$ 19,4 bilhões de suas emendas secretas -por ora, com execução não impositiva.
Geraldo Alckmin, chefe da transição, já diz ser aceitável que a licença para gastar dure quatro anos, em vez de uma eternidade. Sócio de Lira nos negócios da política, Ciro Nogueira, o chefão da Casa Civil e do centrão, prefere que autorização para furar o teto dure apenas um ano. Mas pode mudar de ideia se o petismo concordar com a reeleição do correligionário Arthur Lira para a presidência da Câmara.
Feitas as contas, um fura-teto de valor entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões daria para pagar o compromisso de campanha de manter o Bolsa Família em R$ 600 a partir de janeiro. Para cobrir as outras despesas seria necessário virar do avesso o Orçamento mequetrefe que Bolsonaro enviou ao Congresso, promovendo cortes e remanejando despesas.
Levando o trabalho a sério, o novo governo transferiria os bilhões do orçamento secreto, por exemplo, para iniciativas como o reforço da merenda escolar e a restauração da Farmácia Popular. Mas isso exigiria uma dose de interesse público. E há outros interesses a defender no torneio de bodes de Brasília.
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