Jair Bolsonaro: como ele está em pânico, precisa se mostrar perigoso, tentando ser, ao mesmo tempo, a doença e o remédio Imagem: Igo Estrela/Metrópoles |
Será que, ao estimular, por intermédio do silêncio, as manifestações golpistas Brasil afora e a virtual paralisia do aeroporto de Guarulhos, Jair Bolsonaro ainda sonha com golpe de Estado? Ele tem lá suas loucuras — nem sempre age com cálculo —, mas não é doido o suficiente para achar que dispõe de força para impedir a posse de Lula no dia 1º de janeiro de 2023.
Tanto é assim que, tudo indica, está tentando combinar com Hamilton Mourão a passagem da faixa ao petista. Fazê-lo de maneira pacífica, para seus fanáticos, representaria uma rendição imperdoável. O mundo já parabenizou Lula e, para sua profunda tristeza, reverenciou o petista. A essa altura, os atores relevantes da politica e da imprensa internacional já sabem o que foi a Lava Jato e já têm consciência de que Sergio Moro se transformou naquilo que sempre foi.
A imprensa internacional, diga-se, exaltou a notável trajetória de Lula: da cadeia, em razão de uma condenação ilegal, para a Presidência, em seu terceiro mandato. E sua resistência se deu nos terrenos jurídico e político. No Brasil, com raras exceções, impera a má-vontade sob a desculpa da independência e da isenção. O verbo que o colunismo mais conjugou desde que se conhece o resultado das urnas é "deve" — e não é o "deve" como um "pode ser", e sim um "tem de ser". Se Lula acatar metade dos "deves (tem de)" determinados por esses sábios, pode virar o presidente mais querido de um inexistente Clubinho de Colunistas — mas haveria o risco de perder o mandato... Voltemos ao começo.
O que pretende Bolsonaro? Impedir a posse de Lula? Ele sabe que isso é impossível. Mas se vê que está disposto a criar o máximo que pode de confusão. Sua pretensão é demonstrar que depende dele a paz ou a desordem; que ele tem o comando moral desses que se querem patriotas e vão para as estradas violar a Constituição. Não chega a ser um Trump, que estimulou a invasão do Capitólio, mas observem que também não desestimula ninguém. Parlamentares bolsonaristas estão se solidarizando com os golpistas.
A INVENÇÃO DAS 72 HORAS
Alguma central de boatos plantou a notícia falsa de que Bolsonaro estaria esperando passar as 72 horas desde a proclamação do resultado porque impedido de agir antes. Depois desse prazo, ele e os militares declarariam a nulidade do pleito e ainda prenderiam ministros do Supremo. Por que se inventa essa história do prazo, embora se vá constatar ser mentira?
Eis aí: porque é objetivo é aumentar o público desses pontos de bloqueio, buscando multiplicá-los país afora. No enredo golpista, quando Bolsonaro ainda achava que ou suspenderia as eleições ou comandaria um autogolpe caso Lula vencesse (e Lula venceu!), a desordem se espalhando país afora era crucial. As PMs não dando conta ou sendo coniventes, seria preciso chamar as Forças Armadas para pôr ordem na zorra. Mas aí Bolsonaro diria: "Epa! Eu sou o comandante supremo". E ele imporia um preço para garantir a ordem.
Qual preço? Aí seria preciso estar dentro da cabeça de Bolsonaro. Talvez imaginasse até mesmo a anulação de eleições. Não. Isso não vai acontecer. Mas é claro que o ogro, com seu silêncio, alimenta essa besteira das 72 horas. Afinal, esperam-se sempre coisas mágicas de um "Mito"...
Nesta terça ou nesta quarta, é até possível que o presidente diga alguma coisa que contribua para evitar novas obstruções — e vamos ver como se comportam as polícias —, mas me parece certo que ele vai dar um jeito de aceitar a eleição de Lula, sem, no entanto, se conformar com o resultado.
E, também nesse caso, vai repetir Donald Trump, que praticamente lançou a sua candidatura à sucessão de Biden antes mesmo que o eleito tomasse posse. E lá está o biltre, não é? Não se sabe se acaba preso ou se será o candidato do Partido Republicano.
O mundo já reconheceu a vitória de Lula. O mesmo fez a cúpula do Congresso no Brasil, inclusive aliados do presidente. Também o capital, os mercados etc. Aliás, a vitória do petista não tem ainda 48 horas, e o país passou a ser visto com outros olhos no mundo. Já deixou de ser pária. Estados Unidos, Europa, China — que fala em restabelecer parcerias... Não demora, e haverá uma fila de empresários saudando Lula...
Então o que quer Bolsonaro? Quer uma posição de força, nem que seja a força de um miliciano a pedir que os golpistas esperem um pouco mais. Voltem agora para casa porque seu "Mito" vai se preparar, quem sabe, para a batalha de 2026...
Ele só se esquece de que a penca de crimes comuns que cometeu está no meio do caminho. Os de responsabilidade desaparecerão no dia 31 de dezembro. Os outros não. E ele terá de prestar contas, nesse caso, não ao "Deus acima de todos", mas à Justiça, que pode estar abaixo de Deus, mas é ela quem manda para a cadeia.
Bolsonaro está em pânico e, por isso, ameaça o Brasil com seu silêncio. Tenta ser, ao mesmo tempo, a doença e o remédio.
É só doença.
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