segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Alvo de extremistas não é Lula, é a democracia


Vidraça do Palácio do Planalto quebrada após invasão de bolsonaristas

Pode-se dizer tudo sobre os atos terroristas deste domingo, menos que foram inesperados. Os bolsonaristas sempre avisaram que tentariam um golpe. A começar por seu líder supremo, que não reconheceu a derrota nas urnas e fugiu do país para boicotar a posse do sucessor.

Em janeiro de 2021, o ainda presidente Jair Bolsonaro festejou a invasão do Capitólio, orquestrada por seu aliado Donald Trump. Acrescentou que o Brasil poderia enfrentar “um problema maior que os Estados Unidos”. Dois anos depois, o desejo do capitão foi atendido.

O Capitólio candango foi mais grave que o original. Em Washington, o ataque se limitou ao Legislativo. Em Brasília, atingiu as sedes dos três Poderes da República.

A depredação do plenário do Supremo mostra que o ódio da extrema direita vai muito além de Lula. Seu verdadeiro alvo é a democracia, que tem a Corte Constitucional como guardiã maior.

Se os ataques às instituições eram previsíveis, é preciso apurar as responsabilidades de quem deixou de agir para evitá-los.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, pediu “desculpas” pela destruição de prédios públicos. Aliado de Bolsonaro, ele entregou a Secretaria de Segurança Pública ao ex-ministro Anderson Torres, homem de confiança do ex-presidente.

Sob o comando da dupla, a polícia cruzou os braços diante dos atos terroristas. Isso não é caso de desculpas. É caso de renúncia ou impeachment do governador, sem prejuízo de uma investigação criminal.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, também tem explicações a dar. Nomeado para normalizar as relações entre os militares e o poder civil, ele apostou na tática da acomodação. Afagou os bolsonaristas e classificou os acampamentos pró-golpe como “manifestações da democracia”.

Segundo Múcio, as concentrações em frente aos quartéis iriam “se esvair” naturalmente. Os atos deste domingo mostram que ele estava errado — e ainda pode ter induzido o chefe a erro.

Em dezembro, o ministro da Justiça, Flávio Dino, já avisava que os acampamentos eram “incubadoras de terroristas”. Nos últimos dias, ele tentou convencer Lula a ordenar a desocupação imediata de áreas militares.

Aconselhado pelo titular da Defesa, o presidente preferiu adiar uma medida de força. A intervenção no Distrito Federal, decretada após o quebra-quebra, sugere que sua paciência finalmente acabou.

Além de investigar e punir os extremistas, as instituições precisam identificar seus financiadores ocultos. Não adianta prender indivíduos sem interromper o fluxo de dinheiro que movimenta a engrenagem do golpismo.

O mesmo vale para os líderes políticos que incentivaram a baderna. Incluindo os que se escondem nas redes sociais ou na terra do Pateta.

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