Quando se imaginava que a insanidade voltaria para casa, o bolsonarismo de meio-fio deu novos rugidos. Em estado de alerta, o ministro Flávio Dino (Justiça) disse tudo em duas frases penduradas nas redes sociais neste domingo: "Espero que não ocorram atos violentos e que a polícia não precise atuar. 'Tomada do Poder' pode ocorrer só em 2026, em nova eleição."
Na primeira frase, Dino informou aos órfãos de Bolsonaro que passou a existir um governo em Brasília. Na segunda, lembrou aos adversários de Lula que o caminho para derrubá-lo é a urna. Hoje, a principal vítima da eternização da histeria como estratégia política é a oposição de direita, não o governo recém-empossado.
Retomaram-se nas últimas 72 horas as tentativas de atear fogo na conjuntura. Na sexta-feira, em São Paulo, manifestantes bloquearam a principal via de acesso ao aeroporto de Congonhas.
No sábado, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes foi arrancado do recesso para ordenar a desobstrução de área ocupada por bolsonaristas em frente ao batalhão do Exército, em Belo Horizonte. Aplicou multas de R$ 100 mil.
Ainda no sábado, órgãos federais de informação alertaram o novo governo sobre o plano do bolsonarismo de trancar vias de acesso a refinarias em São Paulo e no Rio de Janeiro. O objetivo seria prejudicar o abastecimento de combustível no país.
Simultaneamente, mais de oito dezenas de ônibus despejaram novas levas de bolsonaristas nas cercanias do quartel-general do Exército, em Brasília. Flávio Dino acionou a Força Nacional de Segurança. Trocou telefonemas com governadores, inclusive os de oposição.
É constrangedor o silêncio dos supostos líderes do conservadorismo no Brasil. Num instante em que Bolsonaro observa os efeitos do seu legado caótico desde o exílio da Disney, a paralisia da banda muda da direita fornece combustível para os piromaníacos do golpe.
Frustrado o desejo de melar a posse, tenta-se agora impedir que Lula governe. Isso pode interessar a desmiolados como Bolsonaro, não à direita com dois neurônios.
No momento, personagens como Tarcísio de Freitas e Romeu Zema consolidam-se como polos de poder em Estados do porte de São Paulo e Minas Gerais. Sonham em virar alternativas para 2026. O clima de histeria não lhes calha bem.
É parte do jogo democrático que a oposição tente criar embaraços para o governo Lula. Isso se faz expondo os erros do adversário e oferecendo ideias alternativas. O pressuposto da alternância no poder é a preservação das regras e da civilidade democrática.
Políticos conservadores que enxergam no horizonte a possibilidade concreta de chegar ao Planalto, deveriam trocar rapidamente o silêncio conivente pelo repúdio franco à banalização da retórica golpista e do flerte com a ruptura institucional. Os histéricos do bolsonarismo levam Lula à mira. Mas acertam os pés de barro da direita.
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