No poder, Bolsonaro tentou torrificar a democracia. Apeado, vive uma nova experiência culinária: a autofritura. Suprema ironia: Sem tocá-lo, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes está fritando o capitão com a chama e a gordura que ele próprio forneceu.
Horas antes da consumação do infortúnio do seu ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso neste sábado, Bolsonaro tornou-se um investigado no inquérito sobre o Capitólio brasiliense. Em menos de uma semana, a barbárie do 8 de janeiro caiu no colo do seu dono.
Caprichoso, o destino ofereceu a Bolsonaro a prerrogativa de definir o seu futuro. E ele exerceu com máxima plenitude a prerrogativa de desbravar o seu próprio caminho para o inferno. Fez isso em cinco lances:
1. Bolsonaro levou a mão à frigideira ao menosprezar a derrota.
2. Bolsonaro ligou o fogo ao fugir para Orlando, trocando o ritual da passagem da faixa presidencial pela companhia do Pateta.
3. Bolsonaro aumentou a chama ao incitar com sua dubiedade as falanges que invadiram os três Poderes.
4. Bolsonaro saltou para a beirada da frigideira ao compartilhar no Facebook, horas depois do quebra-quebra, um vídeo insinuando que a vitória de Lula foi uma fraude do TSE e do Supremo.
5. Bolsonaro foi empurrado para dentro do óleo quente do inquérito sobre a quebradeira bolsonarista graças a uma petição enviada ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República.
Ficou entendido que até o antiprocurador-geral da República Augusto Aras foge do naufrágio. Com água pelo nariz, Aras criou um tal Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos. Sonegando uma boia à parceira bolsonarista Lindôra Araújo, Aras entregou o comando do grupo ao subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos.
Carlos Frederico teve que ser empurrado. Escorou sua petição ao Supremo numa representação assinada por 79 membros do Ministério Público Federal pedindo que Bolsonaro seja investigado. O pretexto foi a reprodução do vídeo mentiroso numa rede social.
Com quatro anos de atraso, a PGR acordou para o truque de Bolsonaro. O personagem sempre difundiu mentiras nas redes sociais. Foi a maneira que ele encontrou para municiar a milícia digital que propaga sua realidade paralela como se rabiscasse desenhos rupestres nas paredes das cavernas eletrônicas do bolsonarismo.
Alexandre Moraes alfinetou em seu despacho: "Importante destacar que o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro reiteradamente incorre nas mesmas condutas ora investigadas, o que é objeto de apuração em diversos inquéritos nesta Corte". Foi como se gritasse para a PGR de Aras: "Demorooooooooou!"
No palanque de 7 de Setembro de 2021, em meio a ofensas ao Supremo e aos seus ministros, Bolsonaro bradou: "Só saio preso, morto ou com a vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso."
O eleitor sonegou a vitória ao capitão. Deus prolonga-lhe a vida. Agora só falta a divina providência presentear a pátria e a família brasileira com uma boa investigação. Coisa séria e sóbria. Na prática, Bolsonaro já está preso. Virou uma baleia dentro de um microondas. Com tanta gordura ao redor, os investigadores não precisam de pressa para deixar o investigado bem passado.
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