quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Bolsonaristas presenteiam Lula com 2ª posse



Lula presidiu uma reunião que parecia impensável. Sentado ao lado dos chefes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, recebeu governadores e representantes de todos os estados, inclusive os de oposição. Não tinham nenhuma reivindicação. Num desagravo coletivo à democracia, foram prestar solidariedade um dia depois do atentado bolsonarista contra os Três Poderes.

Depois, percorrer um salão destroçado, Lula e os convidados desceram a rampa do Planalto e atravessaram a Praça dos Três Poderes a pé, para inspecionar as ruínas do plenário da Suprema Corte. O Capitólio bolsonarista de 8 de janeiro produziu uma improvável união nacional em torno da defesa da democracia. O aval coletivo ao resultado das urnas funcionou como uma segunda posse para Lula.

De repente, a conjuntura sofreu profundas alterações. Desmontaram-se os acampamentos que pediam intervenção militar na porta dos quarteis. Estão fora dos cargos algumas autoridades negligentes. Numa votação relâmpago, a Câmara aprovou a intervenção federal no setor de segurança do Distrito Federal. O Senado fará o mesmo. Cerca de 1.500 golpistas a serviço do mito encontram-se na cadeia. Emitiram-se os primeiros mandados de prisão contra financiadores da barbárie.

O fantasma do extremismo político não foi inteiramente exorcizado. A consolidação do processo depende da extensão das punições. O castigo precisa chegar a Bolsonaro. Mas o pedaço dos quarteis que o capitão chamava de "minhas Forças Armadas" já deve ter percebido que não há ambiente para retrocessos.

A Constituição respira. As instituições reagem. Os golpistas forneceram material para a união dos contrários em torno de um objetivo comum: a preservação da democracia. A pauta conjunta é mínima como a cabeça de um alfinete. Mas o propósito é grandioso.

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