quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Bolsonarismo xiita eterniza Moraes na função de "Xerife-Geral da República"


Extremistas arrancam porta do gabinete do ministro do STF Alexandre de Moraes Imagem: Reprodução Twitter

No ambiente intoxicado da campanha presidencial do ano passado, Alexandre de Moraes atuou como um xerife do condado do Tribunal Superior Eleitoral. No geral, revelou-se mais rápido no gatilho do que as milícias digitais e os bandoleiros partidários. Contabilizados os votos do segundo turno, imaginou-se que guardaria o coldre. Deu-se o oposto. Cintila agora na estrela de Moraes o brilho de guardião da democracia.

Graças à facção xiita do bolsonarismo, Alexandre de Moraes ampliou, por assim dizer, sua jurisdição. Consolidou-se na função de "Xerife-Geral da República". Nesta quarta-feira, antecipando-se à ameaça das falanges bolsonaristas de repetir em escala nacional o terror que barbarizou as sedes dos Três Poderes, Moraes ordenou às autoridades federais e estaduais que se equipassem para evitar o bloqueios de vias e a invasão de prédios públicos em todo o país. Deu salvo-conduto para prisões em flagrante de eventuais arruaceiros. Multou preventivamente potenciais responsáveis por atos antidemocráticos —R$ 20 mil para pessoas, R$ 100 mil para empresas.

Simultaneamente, numa evidência de que Alexandre de Moraes dispõe de retaguarda, nove dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, reunidos emergencialmente no plenário virtual, avalizaram decisões individuais tomadas pelo xerife nas pegadas do Capitólio bolsonarista de 8 de janeiro. Receberam o endosso da Corte o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e a ordem de prisão contra o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres.

Ao retirar Ibaneis da cadeira de governador por 90 dias, Moraes colocou-se um passo à frente de Lula. O presidente limitara seu decreto de intervenção na capital à área da segurança pública. O xerife corrigiu também uma omissão de Lula ao ordenar a dissolução dos acampamentos em frente aos quartéis.

Com atraso, os ministros José Múcio, Flávio Dino e Rui Costa viram-se compelidos a se reunir na noite de domingo para fazer sob pressão da ordem judicial o que o governo se abstivera de fazer por opção. No dia seguinte, o golpismo foi varrido das portas das instalações do Exército.

Entre todos os ambientes depredados durante a tentativa de golpe do domingo, nenhum outro foi tão devastado quanto o plenário do Supremo. A retórica ácida de Bolsonaro contra magistrados da Corte virou pau, pedra, barra de ferro, tinta para a pichação... Restou a ruína. Sob influência da discurso corrosiva do mito, os invasores do Supremo exibiram como um trofeu a porta arrancada do armário em que Alexandre de Moraes guarda a sua toga.

Ironia suprema: a pretexto de aniquilar a toga que Bolsonaro chamou de "canalha", o bolsonarismo potencializou os poderes do relator das ações que podem infernizar o futuro do mito.

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