Embora o ambiente global esteja mais belicoso, com o consequente aumento dos orçamentos de guerra das principais potências ao redor do mundo, a Embraer vem apresentando quedas na divisão de defesa. Mesmo no cenário favorável para a demanda do segmento, especialistas avaliam que a fabricante brasileira terá desafios para crescer.
No terceiro trimestre, pesou no resultado da Embraer a divisão de defesa e segurança, que reportou queda de 42% da receita na comparação anual, para R$ 533,7 milhões. De abril a junho, a retração do indicador foi de 31% sobre um ano antes. A margem do segmento no acumulado até setembro foi de 21,2%, ante 23,6% no mesmo período do ano passado. Em 2022, após um longo período de negociações com a Força Aérea Brasileira (FAB), a Embraer anunciou um acordo definitivo para redução do contrato do KC-390, de 28 para 19 unidades.
A retração registrada pela companhia ocorre em um cenário global favorável para a compra de itens de defesa. O professor de Relações Internacionais e Economia no Ibmec-SP, Alexandre Pires, cita o aumento dos orçamentos de guerra, em meio ao conflito na Ucrânia e à intensificação das manobras chinesas em Taiwan. Segundo o especialista, os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Europa estão cumprindo as cotas de investimentos mínimos em defesa, o que vinha sendo cobrado por Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. “Os gastos militares estão crescendo no mundo inteiro”, afirma.
Ele pondera, entretanto, que itens de defesa são estratégicos em toda pauta de exportação e extremamente regulados. “Os grandes contratantes desse segmento são os governos, que podem tomar decisões arbitrárias sobre qual fornecedor comprar. A escolha tem a ver com geopolítica. Aliados dos Estados Unidos, por exemplo, vão comprar de empresas norte-americanas.”
Pires observa, entretanto, que a Embraer tem atuado em nichos com excelência, como aeronaves de treinamento, por exemplo. “Os Super Tucanos têm um custo bastante competitivo”, diz. Por outro lado, em áreas com mais tecnologia embarcada, aponta, a concorrência é mais acirrada, como em cargueiros com função militar e civil. “Frequentemente, a Embraer vai enfrentar concorrência local nesse nicho.”
O analista de transportes do Citi, Stephen Trent, avalia que a Embraer tem produtos de sucesso no segmento de defesa, como o KC-390 e o Super Tucano, mas o tamanho das oportunidades desse mercado é questionável. “O mercado global de defesa é razoável e a Embraer tem potencial. Mas não tenho tanta certeza sobre o quanto há de oportunidades à frente”, diz o especialista.
Empresa otimista
A Embraer afirma que a atual conjuntura global continua a influenciar países ao redor do mundo a revisar seus planos e atualizar as capacidades das suas forças armadas, o que é favorável para o setor de defesa. “A Embraer está otimista com o atual momento da área de defesa e segurança, pois temos campanhas de vendas em andamento em diferentes continentes”, diz a empresa.
A companhia não detalha a carteira de clientes, por questões de confidencialidade e estratégia competitiva, mas relata que, dos negócios anunciados publicamente, vale ressaltar os contratos de venda do KC-390 para Brasil, Portugal e Hungria - 19 para a FAB, cinco para Portugal e duas aeronaves para a Hungria. “Além disso, o avião também foi selecionado pela Força Aérea da Holanda, que pretende adquirir cinco aeronaves KC-390 para substituir a atual frota de C-130 Hercules daquele país”, informa a Embraer.
A fabricante brasileira salienta ainda que, atualmente, tem campanhas de vendas ativas em praticamente todos os continentes. Europa, região da Ásia-Pacífico e Oriente Médio são os mercados que mais se destacam pelo alto nível de atividade e grande potencial, “o que reforça a competitividade” do seu portfólio.
No Brasil, a Embraer diz que o acordo final sobre o contrato com a FAB reforça ainda mais a parceria de longa data. “A agenda das Forças Armadas é um projeto de Estado, apoiado por diferentes governos ao longo dos anos”, diz a fabricante, sem dar detalhes sobre o que espera do novo governo eleito.
Para o analista do Citi, a Embraer enfrentará desafios em vários níveis na divisão de defesa. “É preciso não só demanda, mas o produto tem de se encaixar no campo de batalha. A competição é massiva com as empresas maiores do segmento”, avalia. “Esse mercado tem potencial, mas não me parece que há oportunidades robustas, são menores hoje do que 10 ou 15 anos atrás”, acrescenta.
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