O ministro da Defesa apresentou uma fórmula para evitar novos atos golpistas. Quer presentear os militares com mais tanques, aviões e submarinos. Na sexta-feira, José Múcio Monteiro levou os três comandantes ao Planalto. Na saída, prometeu abrir os cofres para Exército, Marinha e Aeronáutica.
“Lula foi o presidente da República que mais investiu nas Forças Armadas”, discursou o ministro. Pode ser, mas a crise que ameaça a democracia não tem nada a ver com a lista de compras da caserna.
Há duas semanas, extremistas invadiram as sedes dos Três Poderes e tentaram usar a força para reverter o resultado da eleição. O quebra-quebra contou com a omissão e a atuação de militares de diversas patentes. Após a depredação do patrimônio público, os bolsonaristas se refugiaram ao lado do Quartel-General. À noite, a polícia tentou prender os criminosos em flagrante. A ação esbarrou na resistência do Exército, que chegou a enviar blindados para proteger o acampamento.
A investigação dos ataques mal começou, mas o ministro da Defesa já tem um veredicto. “Entendo que não houve envolvimento direto das Forças Armadas”, sentenciou. “Se algum elemento individualmente teve sua participação, ele vai responder como cidadão”, prosseguiu.
Múcio não incitou os atos golpistas, mas deixou de agir com firmeza para impedi-los. Ao tomar posse, ele classificou as ameaças dos extremistas como “manifestações da democracia”. Acrescentou que tinha amigos e parentes entre os bolsonaristas que pediam golpe e ditadura.
No dia 6, o ministro disse ao chefe que a situação estava sob controle e que os acampamentos tinham se esvaziado. Dois dias depois, Brasília viveu uma tarde de terror com transmissão ao vivo na TV. Enquanto os bárbaros invadiam os palácios, Múcio tentou convencer Lula a autorizar uma operação de garantia da lei e da ordem. O presidente farejou a armadilha e rechaçou a ideia, que daria ainda mais poder aos generais.
Depois de tantos erros, o ministro ainda insiste na via da acomodação. Na sexta, ele disse que os ataques são “página virada”. “A gente tem que pensar no ‘para frente’. A gente tem que pacificar este país”, afirmou, ecoando vozes da caserna que pedem impunidade para os golpistas.
O 8 de Janeiro não foi um raio em céu azul. Refletiu a radicalização de setores da sociedade e das Forças Armadas, que viram no projeto autoritário de Bolsonaro um atalho para voltar ao poder. A ameaça extremista não será resolvida com a compra de equipamentos de guerra. É preciso investigar e punir todos os criminosos, sem distinção entre militares e civis. Não se trata de vingança, e sim de aplicar a lei para que a barbárie não se repita.
A demissão do comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, pode ser um primeiro passo para desbolsonarizar os quartéis. Ao indicá-lo, Múcio admitiu que não o conhecia. “Fui na internet e vi quem era o mais antigo”, contou.
Na decisão em que mandou prender os extremistas, o ministro Alexandre de Moraes citou a Europa de 1938, quando autoridades subestimavam a ameaça da extrema direita. “A democracia brasileira não irá mais suportar a ignóbil política de apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo do então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain com Adolf Hitler”, escreveu.
No Brasil de 2023, a política de apaziguamento ganhou outro nome. Virou defesa da “pacificação”.
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