As reivindicações apareciam durante as audiências de custódia, uma reunião em que o preso é apresentado ao juiz. Na mesma ocasião, também estão presentes um representante do Ministério Público e um advogado. O magistrado avalia aspectos como a legalidade da prisão e as condições a que o acusado foi mantido até então. No caso dos suspeitos de participação das invasões, elas ocorreram de forma virtual.
O GLOBO ouviu dois procuradores que participaram de reuniões como essas, além de advogados dos presos. De acordo com um advogado que atendeu cerca de 30 bolsonaristas que estavam acampados em frente ao QG do Exército, as principais reclamações estavam relacionadas a falta de higiene, principalmente nos banheiros coletivos, e à qualidade da alimentação.
Numa das audiências, um suspeito não aguentou lidar com a situação em que se encontrava. Ainda incrédulo com sua prisão, ele desmaiou diante do juiz ao ser questionado sobre sua participação nos atos. Em situação semelhante, uma senhora se sentiu mal e pediu para ser atendida pelo seu médico particular, o que não é permitido a pessoas que estão detidos. Ao fim, porém, ela conseguiu ser liberada.
Outro suspeito não se conformou com a parca variedade de comida na cela. Ele chegou a reclamar para o juiz que só recebeu Coca-Cola para beber no primeiro dia de detenção e explicou que não gosta de refrigerante.
No primeiro momento, os detidos foram levados para uma triagem na Academia da Polícia Federal, no Guará, em Brasília. De lá, parte foi liberada, quando não havia indícios de cometimento de crimes, e os demais foram distribuídos por diferentes penitenciárias da capital. No curso desse processo ocorreram as audiências de custódia.
Alguns detidos chegaram a perguntar se poderiam recorrer aos aplicativos de entrega de comida quando estavam na Academia da PF. Não foram atendidos.
Apenas os integrantes do Ministério Público Federal (MPF) acompanharam cerca de 1 mil audiências de custódia durante a última semana. A previsão é que elas só sejam concluídas nesta quarta-feira. Caberá ao ministro Alexandre de Moraes, que é o relator do inquérito sobre os atos terroristas no Supremo Tribunal Federal (STF), analisar os pedidos de liberdade.
"Iludidos"
Um procurador contou que muitos presos demonstraram arrependimento com a participação nos atos. Vários choraram e se disseram “iludidos por Jair Bolsonaro”. Um homem preso com estilingues e um facão após invasão ao Senado foi questionado sobre as armas que portava. Alegou que “só usaria o estilingue contra os esquerdistas” e que “o facão era pra arrumar a barraca de acampamento" em que estava.
Aos advogados, os golpistas reclamaram que se sentiram enganados quando foram retirados de ônibus do QG do Exército. Muitos diziam não imaginar que estavam sendo detidos e que, se soubessem, não teriam entrado “pacificamente” no veículo.
Parte dos manifestantes tem relatado, ainda, que não tinha a intenção de invadir prédios públicos e que foram presos dentro dessas instalações porque tentaram se proteger das bombas. O mesmo relato já havia sido dado em depoimentos à polícia.
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