Homem joga no chão o relógio trazido por D. João VI, que estava exposto no Palácio do Planalto Imagem: Reprodução/ TV Globo |
Muito já foi dito sobre a bolsonarização da cúpula das Forças Armadas. Mas nada soou tão desconcertante quanto o barulho do quebra-quebra promovido por falanges bolsonaristas no Planalto. As cenas inéditas exibidas pelo programa Fantástico são chocantes. Há na sede do governo dois destacamentos do Exército: o Batalhão da Guarda Presidencial e o Regimento de Cavalaria de Guarda. Ambos têm entre suas atribuições a proteção do palácio presidencial. Mas as imagens do circuito interno do Planalto expõem mais de duas horas de ataques infames sem que nenhum soldado aparecesse para deter a turba.
As cenas mostram golpistas estilhaçando vidraças, destruindo móveis e obras de arte, furtando objetos, arrancando cortinas. De cara limpa, um criminoso perfura a tela de Di Cavalcanti, mestre do modernismo brasileiro, com sete golpes de barra de ferro. Outro, vestindo camiseta que estampa o rosto de Bolsonaro, derruba violentamente no chão o relógio do século 17 doado pelo rei francês Luís 14 e trazido ao Brasil por Dom João 6º em 1808. Um terceiro bolsonarista destrói uma vitrine com documentos históricos a poucos metros do gabinete presidencial. Há de tudo nas imagens, exceto os soldados do Exército. As cenas contrastam com as que foram gravadas no Congresso, onde a Polícia Legislativa tentou resistir com bravura aos talibãs do bolsonarismo.
Decorridos oito dias dos ataques infames, os militares ainda não se pronunciaram sobre sua omissão. O sumiço da voz do Exército diz muito sobre o fenômeno que produziu os ataques ultrajantes do dia 8 de janeiro. A mensagem invisível do Exército, expressada pela força do silêncio eloquente, é a de que a cumplicidade com os pendores golpistas de Bolsonaro sobreviveu à troca de governo. Se o Brasil tivesse voltado à normalidade, a nova gestão já teria dado um basta ao silêncio das Forças Armadas. Lula já expressou sua insatisfação. Insinuou que as portas do Planalto foram deliberadamente abertas para os criminosos. Mas ficou nisso.
Estão na cadeia 1.159 criminosos. Outros 684 foram liberados para responder pelos crimes em liberdade. Estão em cana também o ex-comandante da polícia do Distrito Federal Fabio Augusto Vieira e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Bloquearam-se R$ 6,5 milhões em bens de financiadores da arruaça. Até Bolsonaro foi incluído no rol dos investigados. E nada dos militares. Diz-se que as Forças Armadas, agora sob novos comandantes, estão a caminho da despolitização. Numa conjuntura envenenada como a atual, até os surdos sabem que não devem acreditar em tudo o que não ouvem. Há um déficit de farda nos inquéritos sobre o Capitólio brasiliense. Certos silêncios exigem resposta imediata.
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