Almas mais sensíveis hesitam em chamar de terrorismo a erupção de violência que sacode a conjuntura. Numa definição heterodoxa, terrorista é o sujeito que, no papel de mocinho do seu próprio script, trama matar o doente para se casar com o câncer. O surto de ilógica se espraia pelo país. Ganha uma aparência hedionda de rotina. Em cinco dias, a rede de transmissão de energia foi alvo de quatro ataques de sabotadores.
Entre a noite de domingo e a manhã de segunda-feira, delinquentes derrubaram três torres de transmissão. Uma operada por Furnas, no Paraná. Outras duas, da Eletronorte e do grupo Evoltz, em Rondônia. Na tarde de quinta-feira, mais uma rede de alta tensão, operada por concessionária do grupo Taesa, foi atacada por criminosos, dessa vez no município paulista de Rio das Pedras.
Os ataques ocorreram nas pegadas da invasão de falanges bolsonaristas aos prédios do Congresso, do Planalto e do Supremo. A Polícia Federal abriu inquéritos para apurar se a sabotagem das torres de energia tem relação com a versão brasiliense do Capitólio. Simultaneamente, ampliaram-se as medidas de segurança em refinarias da Petrobras, também sob ameaça de ataques desde a semana passada.
O ódio já havia se transferido das redes sociais para as ruas durante a campanha eleitoral. Contados os votos, a coisa piorou. No dia da diplomação da chapa Lula-Alckmin no TSE, bolsonaristas revoltados com a prisão de um indígena queimaram ônibus e automóveis no centro de Brasília. Às vésperas da posse de Lula, a PF prendeu o militante George Whashington de Oliveira Souza, um gerente de posto de gasolina que viajou do Pará para acampar em Brasília, defronte do QG do Exército.
Preso e interrogado, Geroge Whashington confessou ter planejado atentados a bomba. Explodiria um caminhão de combustível nas proximidades do aeroporto de Brasília. Outra explosão interromperia o fornecimento de energia de Taguatinga, cidade da região metropolitana de Brasília. Segundo as palavras do criminoso confesso, a intenção era dar "início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio".
Durante a ditadura militar, o Brasil conheceu o terrorismo de esquerda. Confrontados com sequestro de embaixadores, morte de empresário e execução de fardados, os militares responderam com a tortura, convertida em política do regime, e o extermínio. A democracia precisa se impor pelo contraste. O Estado precisa reagir armado do devido processo legal. Não há solução para a barbárie sem boa investigação e punição exemplar. A conjuntura pede pressa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O administrador do Blog não se responsabiliza pelos comentários de terceiros.