segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Dilma e Bolsonaro mostram que falta ao país a instituição da ex-presidência


Imagem: Marcelo Camargo e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Não é fácil o convívio com um "ex". No mundo inteiro, é complicado o trato com ex-marido, ex-mulher, ex-amante e assemelhados. No Brasil, há outro tipo de "ex" duro de roer: o ex-presidente. A movimentação de Dilma e Bolsonaro potencializa a sensação de que falta ao país uma nova instituição: a ex-Presidência.

Dilma e Bolsonaro percorrem a conjuntura à procura de uma boquinha. Lula trama abrigar Dilma dentro de um contracheque de representante do Brasil numa das marquises da ONU —Unicef ou Unesco. Valdemar Costa Neto, dono do PL, planeja enfiar Bolsonaro dentro da folha do partido, custeada com verba pública.

Nos Estados Unidos, quem deixa a Casa Branca vai cuidar da fundação que leva seu nome. É inimaginável que um ex-presidente americano se empregue como servidor do governo que já presidiu ou do partido a que pertence.

Dilma deveria se contentar com sua atual condição de cuidadora de netos. Há no Itamaraty incontáveis diplomatas mais equipados para representar o Brasil em organismos internacionais. Mas Lula, ele próprio um "ex", parece dar de ombros para a formação dos diplomatas.

Se o Brasil fosse um país lógico, Bolsonaro estaria se preparando para uma temporada na cadeia. Patriota sui generis, o capitão casou-se com a pátria e foi morar no déficit público. Já recebe pensão de militar e aposentadoria de deputado. Se beliscar o bolsa-partido, será um escárnio.

O PL do ex-presidiário Valdemar, depois de ser multado em R$ 22,9 milhões por litigar de má-fé contra as urnas, já deveria ter sido arrastado para um processo de perda do registro. Abusa da paciência do contribuinte prometendo salário também à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Um acinte.

O Brasil já tem assombrações demais. Não merece o convívio com ex-presidentes zumbis, almas penadas que resistem em sair de cena. Ex-maridos e ex-mulheres conseguem, na maioria dos casos, pelo menos firmar um acordo de não convivência sob o mesmo teto. No caso dos ex-presidentes, o brasileiro é obrigado a conviver com eles sob o mesmo céu. Daí a necessidade de criar a instituição da ex-Presidência.

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