terça-feira, 1 de novembro de 2022

O sistema eleitoral orgulha o Brasil (Editorial do Estadão)



O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi novamente um dos grandes protagonistas no segundo turno da eleição geral, ao lado dos dois candidatos à Presidência da República, dos candidatos ao governo de 12 Estados e, é claro, dos mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar neste ano.

Tratou-se de um protagonismo bem distante do sentido que o presidente Jair Bolsonaro tentou atribuir à atuação do TSE, qual seja, o de “desequilibrar” a disputa em favor do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Nada mais longe da verdade factual.

Com tenacidade ímpar para lidar com ataques igualmente inauditos contra o sistema eleitoral – até mesmo no dia da eleição, como as operações da Polícia Rodoviária Federal, no mínimo irregulares, demonstraram –, o TSE garantiu que o pleito transcorresse com total tranquilidade, sem dar azo aos mais tênues indícios que pudessem comprometer a lisura do pleito e, principalmente, a legitimidade dos eleitos.

Tanto foi assim que logo após a confirmação do resultado da eleição presidencial, dignitários do mundo inteiro, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; o presidente da França, Emmanuel Macron; e os primeiros-ministros da Espanha, Pedro Sánchez; e da Alemanha, Olaf Scholz, entre outros, vieram a público cumprimentar Lula da Silva por sua inquestionável vitória.

Não resta dúvida, portanto, de que o sistema eleitoral é digno da mais firme confiança dos cidadãos brasileiros. A bem da verdade, essa confiança jamais havia sido posta em xeque com seriedade, ou seja, para além das lamúrias de um ou outro perdedor, até que Bolsonaro resolvesse fazer da mentira sobre a “fragilidade” das urnas eletrônicas uma muleta para seu golpismo escancarado.

Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro pôs-se a atacar a higidez do mesmo sistema eleitoral que permitiu que não apenas ele, mas quase toda a sua prole fizesse da atividade política um negócio familiar. O desiderato do presidente nunca foi sequer escamoteado: disseminar suspeição sobre a segurança das urnas como forma de justificar uma derrota que decorreu primordialmente de um governo ruim. Até as Forças Armadas foram envolvidas nesse ardil. Aliás, o Ministério da Defesa ainda deve à sociedade o relatório da “fiscalização” da votação feita pelos militares.

Desde que as urnas eletrônicas foram adotadas, em 1996, a segurança do sistema eleitoral brasileiro nunca fez parte da agenda do debate público, sempre foi um não assunto. A rigor, quando se tratou do modelo do País para organizar e apurar eleições ao longo desses 26 anos, foi para enfatizar a confiabilidade de um sistema que se tornou referência para os países democráticos e orgulho para o Brasil.

Foi todo esse histórico de sucesso que o TSE se pôs a defender firmemente na eleição de 2022. Não foi uma tarefa trivial, considerando que a principal origem dos ataques ao sistema foi ninguém menos que o presidente Jair Bolsonaro, do alto do cargo que ocupa. Agora, passada a eleição, que a alegada “fragilidade” do sistema eleitoral volte a ser um não assunto, que só interessa a golpistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O administrador do Blog não se responsabiliza pelos comentários de terceiros.